terça-feira, 13 de novembro de 2007

Minha Casa

Para quem não sabe, eu tenho um sonho de uma casa. Na verdade, ela é a reunião de vários fragmentos de coisas que sonhei. Um mundo que sempre me despertou curiosidade, já que é algo de outro mundo, são coisas que não existem aqui e que muitas vezes são lindos. A minha frustração é que eu nunca tenho habilidade o suficiente para expressá-las. Bem, aqui estão as minhas tentativas frustradas de representar aquele encanto do sonho.


Esse sonho era dentro de um trem, e o trem corria aparentemente sob trilhos bem levantados em relação ao chão, de forma precária e abaixo haviam degraus e degraus de verde como musgos e água, como se fossem poças. À frente haviam bambuzais ou alguma floresta como essa, super verde e com uma luminosidade meio limitada, que nem dessas cortinas de seda, que parecem apenas dar uma camada de alfa. Algo muito zen mesmo e surreal, porque a paisagem pela janela do trem antigo dava uma leve tonalidade sepia e uma certa fragilidade por aqueles trilhos precários. E o sonho não tinha som algum. Eu era uma criança pequena, e a sensaçõa era que eu deixava um lugar para sempre, e junto, pessoas e memórias importantes. O interessante é que uns tempos depois, eu descobri que essas "poças" em musgo, na verdade é uma paisagem que existe, e que se repete no meu sonho em referência: a China. Os arrozais da China têm esse ar mítico maravilhoso. Bem, mas como eu descobri isso bem depois, a minha primeira noção era de árvores e poças em cascatinhas, sobre musgos (algo tão zen como o templo Ryoanji em Kyoto) e queria desenhar em uma parede inteira. Logo imaginei como seria maravilhoso se pudesse pintar numa parede inteira essa paisagem. Melhor, e se eu tivesse uma sala que estivesse aberto com visão direto à um jardim desses? Quem já foi em Ryoanji (o site demora uns bocados pra carregar as imagens, mas vale ver o genuíno jardim de pedras) deve saber essa sensação de ver um jardim lindo à frente e simplesmente repousar ou meditar. Logo eu já estava me imaginando com uma sala refrecante e zen para passar o verão, imaginei que poderia ser uma típica sala para chamar visitas no verão e servir melancias, com aqueles sininhos que balançam ao vento como móbiles. Então para aproveitar a associação da imagem dos trilhos, achei que poderiam ter trilhos contornando, seriam para sentar ou andar e mais, já que é o caso, o chão poderia ser de seixos enormes e ser inteiro coberto de água, provavelmente com uma antesala, que teria toalhas e lavatório de pés. E como eu poderia querer trabalhar nesse refúgio do verão, imaginei que precisaria de um computador. Como não casa colocar aqueles fios todos com a água no chão, eu coloquei um projetor pelo teto, e só precisaria de uma mesa à frente, onde tudo funcionasse à tablet ou touch screen. Essa foi a concepção dessa sala ilustrada.

Já que eu ilustrei uma sala tematizada à uma estação, nada era mais justo que fizesse as outras estações. Para mim, o outono é uma estação dos hobbies, no Japão costuma se dizer que ele associa: comilança, leitura, árvores avermelhadas. E para mim, isso junta atividades mais introspectivas, culturais e casado com uma maturidade da natureza. Existe uma sala de espera de um consultório fonodiólogo que eu fui durante um período, e existia um pedaço que dava numa "semi sala", que por ser escondido, as pessoas não gostavam e para mim, aquele era o meu cantinho sagrado. Ele era hexagonal, cercado por 2 sofás, totalmente simétrico, que no meio davam passagem para a escada que conectava a saída, e havia no meio uma árvore de verdade. Ela era recheada de revistas e por causa das duas janelas que ocupavam boa parte das paredes, sempre o sol entrava iluminando bem, mas nunca aquecia de mais. E talvez por esses meus valores orientais, aquela sala era a tradução de outono. Acho que é isso que inspirou esse desenho.A sala de inverno é outra que eu amei. Lembro que quando fui na casa de meus avós paternos em Tóquio, era um lugar caótico, cheio de coisas antigas entulhadas, de metal, papelão, madeira. Talvez porque meu vô fosse arquiteto e tivesse mania de ficar emendando a casa por conta própria, sem necessariamente prezar o lado estético. E acho que havia um aquecedor das antigas mesmo, que você tem que ficar colocando toras e era metálico, bem caótico mesmo, quase nunca vi algo assim por aqui. Inverno precisa de calor, agente se fecha em casa e é imprecindível ter ótimos chás, tapetes e outros aconchegos que nos tirem do frio, fora meios de se comunicar com o mundo externo sem muitos esforços. Esse é o conceito desse quarto. O tapete segue uma linha de ilustração que eu aprendi a gostar acho que na sétima série, na verdade, até hoje não sei a que se deve esse gênero de desenho. Tinha um menino na sala, que vivia rabiscando o caderno também, só que ele desenhava diferente de mim. Ao passo que eu era mais realista, desenhava coisas imagináveis, ele era bem abstrato. Era como se desenhasse um labirinto, muitas vezes até nem tirava a caneta do lugar, pegava a esferográfica e era como se o objetivo fosse encher a folha, por todos os espaços possíveis. Decidi imitar, e descobri que é uma atividade muito gostosa, você pode escolher um tema ou simplesmente desenhar formas aleatórias e pode demorar dias nisso. Geralmente você tenta ser pouco geométrico, simétrico e tenta manter um mesmo padrão pelo menos durante uma área ou linha que você segue.

A primavera até é o mais sem graça, já que ele é puramente inspirado na idéia do palco, teatro, surpresas, com direito àquele baú e gavetas que você quer descobrir o que tem dentro (assim como os próprios bastidores do palco) e que deve ter aquela chave super trabalhada meio art nouveau, escondida em alguma gaveta da casa. Algo meio "O jardim secreto".

No fim, acabei aproveitando essa coleção para compor o meu portifólio, associando como uma sala de visitas, separando os projetos de acordo com o tema de cada estação. Existe mais o Hall de entradas, agora que lembrei, tenho que achar e postar aqui também.

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